quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Tietê, Rio Que Não é Só Esgoto a Céu Aberto

Nas marges do Rio Tietê, ou próximo delas, estão 30 milhões de pessoas e seu entorno concentra 1/4 do PIB nacional.


O Rio Tietê nasce em Salesópolis e, contrariando o rumo natural de correr na direção do mar, ele segue no sentido do interior, percorrendo 1136 km e passando por 73 municípios paulistas até sua foz, no rio Paraná, na divisa com Mato Grosso do Sul.

Ainda hoje, o rio continua sendo usado para transporte de mercadorias. Pela hidrovia Tietê-Paraná, escoa a produção agrícola de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e até parte de Rondônia, Tocantins e Minas Gerais. Pelo Tietê a navegação de carga é possível a partir da cidade de Conchas, até a foz no rio Paraná. Ao longo desse trecho navegável encontram-se muitas barragens, para garantir o fornecimento de energia elétrica. São ao todo dez usinas hidrelétricas, que geram até 2 mil megawatts de energia. As barragens fizeram com que os acidentes naturais do rio fossem todos encobertos pela água.

A partir da década de 20, as obras na capital para construção de pistas marginais, as pessoas pararam de frequentar o rio e ele foi se tornando um enorme depósito de lixo. É o que diz Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica. Antes disso, principalmente na cidade de São Paulo, o rio era utilizado até para esportes náuticos.
Com a industrialização do país, nas décadas de 40 e 50, o rio Tietê passou a receber, na Grande São Paulo, esgoto não tratado e efluentes industriais. São cerca de 595 bilhões de litros de esgoto doméstico não tratado todo ano no rio. A quantidade gigantesca de poluentes faz com que o rio fique com níveis de oxigênio na água perto de zero.

Em Salesópolis, sua água é limpa e cristalina. A partir de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, a qualidade da água recebe a classificação “ruim”. Quando o Tietê se encontra com o Aricanduva, já na capital, sua condição passa a ser “péssima”, e continua desse jeito até receber as águas do rio Sorocaba, em Laranjal Paulista, quando volta a ser “ruim”. É só em Barra Bonita, a 288 km da capital, a água do rio fica “boa” novamente.

Segundo Paulo Cesar Rocha, doutor em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais, as ameaças aos rios dependem de onde ele passa: “Nas áreas urbanas, as ameaças provém dos efluentes domésticos (quando não tratados corretamente) e industriais.(…). Destes, os piores são os metais pesados, que são acumulativos nos animais.(…). Nas áreas rurais, os problemas são provenientes do excessivo escoamento superficial, que carreia sedimentos em maior quantidade que o normal para o leito do rio.”

A meta do Governo do Estado e da Sabesp é garantir, até o final da década, água potável, coleta e tratamento de esgoto nas cidades atendidas. O investimento para o período de 2011 a 2015 é de US$ 2 bilhões”. De acordo com a Sabesp, o rio será despoluído até 2025: “Em 2025 teremos o rio despoluído”, afirmou Dilma Pena, presidente da companhia.

Sobre os processos de despoluição de rios que foram bem sucedidos, como os europeus Tâmisa e Sena, ao compara-los com o Tietê, a doutora em geografia, Andrea Almeida Cavalcante, acredita que “o processo de despoluição é o mesmo, já que a base do problema também é a mesma e está no crescimento das cidades e consequente não tratamento de seus esgotos.(…). Entretanto, não é possível pensar a recuperação do Tietê sem colocá-lo na lista de prioridades de investimentos.

Fato é que, independente da ação humana, no final do rio, em seus últimos 30 km, sua água volta a ser como na nascente, limpa e cristalina. O Tietê acaba desembocando no rio Paraná com a mesma qualidade que nasce.

Fonte: Mundo Digital - UNESP

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